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O SERMÃO DAS CINZAS

Em Roma, na Igreja de S. António dos Portugueses, em 1672, o Padre António Vieira faz uma profunda reflexão sobre um dos temas mais frequentes da arte barroca: a morte, a efemeridade da vida e as vaidades humanas, como glosa da citação bíblica da Liturgia de quarta-feira de cinzas, na cerimónia de imposição das cinzas: “Memento Homo, quia pulvis es, et in pulverem reverteris.” A sua pregação religiosa torna-se em intervenção política numa acusação à acumulação de riquezas, às desigualdades sociais e numa violenta advertência à Igreja.
“Não será ousado dizer-se que Vieira escolheu ardentemente colocar a sua vida e a sua obra bem perto de uma subida noção de perfeição humana e de vontade de ser.” diz Margarida Vieira Mendes no seu admirável livro sobre o pregador. Segundo ela, para Vieira, o Pregador seria um arquétipo de perfeição, uma espécie de subtipo do protótipo do Santo. E de facto, ter vestido o hábito do Vieira e subido aos púlpitos onde ele pregou, para o filme “Palavra e Utopia” de Manoel de Oliveira, e andar por aí, como tenho andado, no nosso tempo, tão alheio à consciência da morte, a proclamar com o Sermão das Cinzas, nos antigos púlpitos das igrejas, que “somos pó”, tem-me ajudado a pensar e a viver. Acredito que quem quer ser lobo tem de lhe vestir a pele. É essa a minha razão de ser actor.
Esta gravação, feita por amigos no Outono de 2010, é o registo de um desses momentos, num dos púlpitos onde o Padre António Vieira mais vezes pregou, o da Igreja de S. Roque em Lisboa.

Luis Miguel Cintra

 
Extrato com áudio

Sermão da Cinza

     

Autor: António Vieira
Revisão: Teresa Meneses
Capa e direcção gráfica: Joaquim Pinto e Nuno Leonel
nota: o texto segue a edição crítica dirigida por Arnaldo Espírito Santo para a Imprensa Nacional - Casa da Moeda

Gravado por Joaquim Pinto, na Igreja de São Roque no dia 24 de Outubro de 2010
Masterizado por João Ganho no estúdio o Ganho do Som
Fabricado na SONY DADC, Áustria